NO DIA DO CAMINHONEIRO, MOTORISTAS FALAM DOS DESAFIOS E ALEGRIAS DESSA IMPORTANTE ATIVIDADE.
- Wagner Santos

- 30 de jun. de 2021
- 4 min de leitura
Profissão é homenageada em um dos estados mais produtivos do Brasil

José Carlos e Roque Machado moram na Baixada e começaram desde cedo na profissão, por influência dos pais (fotos: arquivo pessoal)
Para comprar arroz no mercado, precisamos de alguém que o entregue. Ao pedir um brinquedo para o filho em um site, uma pessoa precisa fazer a entrega. Para que os produtos do Porto de Santos sejam escoados e o dinheiro recebido, alguém precisa mover essa carga. Todos esses exemplos levam a apenas um fio condutor: os caminhoneiros.
Esta, que é uma das profissões mais importantes do nosso país, é homenageada nesta quarta-feira, dia 30, no Estado de São Paulo.
Artur Ferreira Maciel Filho é o Diretor Financeiro da empresa Coopertrans, que conta com cerca de 633 cooperados, e lamenta o fato de uma profissão tão essencial ser tão desvalorizada. "O caminhoneiro, infelizmente, não é bem-visto pela população".
Segundo o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam), são em torno de 4 mil profissionais cadastrados, todos autônomos. Por isso, a média salarial varia bastante e acaba dependendo do frete cobrado por cada local.
Luciano Santos de Carvalho, presidente do Sindicam, ressalta que é uma profissão cheia de desafios. "Em primeiro lugar, é difícil manter os trabalhos sendo autônomo. Depois, largar a família para trazer o sustento para a nossa casa é bem complicado. E ainda temos os desafios do dia a dia do trânsito, que é muito conturbado para o caminhoneiro", conta.
José Carlos Domingues Junior
A inspiração para ser caminhoneiro, por vezes, vem de berço. Morador do Morro da Nova Cintra, em Santos, José Carlos Domingues Junior começou na profissão por influência do seu pai, caminhoneiro há 47 anos, pois quando criança o acompanhava em suas viagens.
Na estrada desde 2004, sua rotina é bem corrida. Geralmente sai de casa para trabalhar às seis da manhã, para o dia render mais, e assim evita dirigir na parte da noite. "Hoje em dia faço rotas curtas para ficar no máximo um dia fora de casa. A saudade da família é grande".
O máximo que ficou fora de casa foi no período de uma semana, experiência que não espera repetir: "Foi complicado, pois minha filha tinha meses e seria o primeiro Natal dela. Eu havia levado uma carga para Santa Catarina e dependia do fiscal da Receita Federal autorizar a descarga. E pela data, eles iriam parar e só voltavam na outra semana. Foi difícil, mas no final deu tudo certo".
E como se não bastasse a saudade da família, veio a pandemia e deixou tudo mais difícil, já que a convivência com os amigos de trabalho ficou mais restrita. Conclusão: passa ainda mais tempo sozinho e a insegurança na profissão fica maior.
José Carlos destaca a dificuldade que é ser caminhoneiro no Brasil. Além de não se sentir seguro para trabalhar por conta da criminalidade, outros vários desafios dificultam a profissão.
"Além da segurança, são muitas as dificuldades impostas pelos governos e pelas autoridades. O preço do diesel, o frete baixo, a manutenção cara... Cada vez mais você tem que aprender a economizar diariamente".

Aos 29 anos, Rockstrada já ganhava a vida com a profissão e tinha muita história para contar
Roque William Ferreira Machado
Se ter a inspiração do pai já foi o suficiente para o José Carlos virar caminhoneiro, imagine a história de Roque William Ferreira Machado, conhecido como Rockstrada, que teve pai e mãe na profissão. Ele mora na Vila Couto, em Cubatão.
"Meu pai teve caminhão a vida inteira, acho que desde os 20 anos. Comecei a trabalhar com caminhão com 15 para 16 anos, em algumas áreas dentro de Cubatão, já que na época não precisava de habilitação. Então eu tive influência do meu pai e da minha mãe, que também teve caminhão dentro da área da Cosipa. Ficou no sangue".
Mesmo com toda essa experiência, ele ainda enxerga a segurança como algo muito longe da realidade de quem tem esse tipo de trabalho. E essa é uma questão que dificulta muito a permanência desses trabalhadores na estrada.
"Hoje as leis são muito mais para o ladrão do que para o trabalhador. No começo dos anos 2000, era mais seguro viajar. Graças a Deus nunca mexeram comigo. Mas você não pode parar o caminhão no posto, já que não sabe se vai acordar sem óleo diesel, sem estepe, sem os pneus do caminhão ou até mesmo coisas piores".
Rockstrada diz que sente falta da família, mas entende que isso é consequência do trabalho que tanto ama. Pelo menos existe a tecnologia como uma ferramenta de aproximação, principalmente com as chamadas de vídeo.
"O máximo que eu cheguei a ficar longe foi 13 dias, porque estava com contêiner em Aragarças, em Goiás, e o guindaste não conseguiu descarregar as caixas, que estavam com excesso de largura e peso. Mas o restante é três ou quatro dias. E vida que segue, porque quando você assume a responsabilidade de caminhoneiro, é missão dada, missão cumprida".
Ele lembra, ainda, que para ser caminhoneiro é preciso cair na estrada, resolver qualquer problema que aparecer e entregar a carga. Já que do outro lado sempre tem alguém precisando da mercadoria.
"Nosso lema é resolver o problema e entregar a carga, porque a gente sabe que tem gente precisando de remédio, de alimentação, de tudo que a gente transporta no caminhão. Tudo é motivo de felicidade para as pessoas que estão recebendo. Aí você calcula 35 anos, são muitas pessoas sorrindo quando veem um caminhão chegar".
Além de passar por cada cidade de São Paulo, Rockstrada já rodou por todo o Brasil: Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Belém, Bahia, Fortaleza, Rio Grande do Norte... E, uma vez, quando passou por Tocantins e estava chegando no Pará, passou por uma situação inusitada.
"Eu já tinha passado o Tocantins, estava entrando no Pará e meu caminhão deu um problema. Fiquei cinco dias quebrado. Sem almoçar, sem jantar, sem tomar banho. E ainda preocupado, sem dormir, porque de noite via onça, via tatu, via macaco, via tudo, e Deus, que estava ali comigo. Os caminhoneiros passavam e tentavam me ajudar. Um deixava um pacote de bolacha, garrafa de água, outros paravam para fazer café da tarde para mim e comer junto comigo. Então, vou te falar, caminhoneiro sempre ajuda. Nós somos companheiros solidários, nós somos amigos. Temos que ser comunicativos porque uma hora eu preciso e uma hora eu vou ajudar alguém. Isso daí foi o que mais me marcou em 35 anos de volante".
Por Lucas Campos
Redação BS9







